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‘Alien: Covenant’ exibe proposta instigante, mas resultado fica aquém do esperado

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Dirigida por Ridley Scott, a nova saga de Alien investe em premissa instigante e propõe reflexão sobre a origem da vida e as complexas relações de poder entre criador e criatura. Apesar do questionamento filosófico e dos efeitos visuais competentes, a ficção revela estar aquém da sofisticação estética e narrativa propostas.

Imagem/Fox Film

O ano é  2104 e a estação espacial Covenant segue em uma viagem intergalática com o objetivo de colonizar um planeta distante do sistema solar, durante este trajeto a nave é atingida por uma tempestade de plasma e a partir dessa situação, a tripulação e os colonos em estado ‘criogênico’ (congelados para futura reanimação) sofrem uma mudança drástica no destino.

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É preciso compreender que a trama dialoga com Prometheus e revela o que teria acontecido a tripulação sobrevivente. Mas diferente do filme de 2012, há uma dose maior de adrenalina  e também se intensificam as discussões sobre a relação entre homem e máquina, humano e alienígena ou mesmo Deus e servo.

A diferença também pode ser percebida da seguinte forma: se a polêmica sequência de ‘autocirurgia’ estrelada por Noomi Rapace na produção de 2012 causou controvérsias, mesmo tendo sido bem executada; em Covenant, o argumento convertido em imagem pode gerar uma cena constrangedora, como aquela em que o ser monstruoso recém-nascido realiza uma espécie de gesto de reverência, algo em tom messiânico.

Todavia, a ambiguidade presente no filme é bem aproveitada por Michael Fassbender e, independente dos aspectos previsíveis do desenlace narrativo, o ator segue com maestria e consegue capturar a dicotomia pedida pelos roteiristas e por Ridley Scott. Ao que parece, a obra ‘O médico e o monstro’ e a história bíblica de Caim e Abel podem ter servido de inspiração para o texto.

Michael Fassbender caracterizado como Water e Carmen Ejogo na pele de Karine – Imagem/Fox Film

Mas se do ator veterano foi extraída toda a complexidade necessária, a personagem de Katerine Waterston funciona como um desenho bastante opaco da tenente Ripley, porém, isso não se resume ao desempenho da atriz, mas a um conjunto de fatores, como a orientação e o próprio roteiro em si. Talvez, a ideia tenha sido deixá-la com uma importância de coadjuvante.

Diga-se de passagem, a arista segue caracterizada com os cabelos curtos em uma possível referência a figura de Sigourney Weaver  em ‘Aliens: O Resgate’, de 1986. A própria fotografia com a arma empunhada remete a produção do período ‘oitentista’.

Katherine Waterston na pele de Daniels – Imagem/Fox Film

Aliás, o filme recente parece conversar mais com o título dirigido por James Cameron do que com o ‘O Oitavo Passageiro’ de 1979, inclusive, com direito a situações parecidas, mas, independente disso, Covenant exibe momentos de tensão capazes de capturar o interesse do espectador.

Vale ressaltar, não há problema em optar pela ação em detrimento do suspense como foi feito na sequência da década de 1980, todavia, se compromete ao inserir cenas peculiares ao repertório cinematográfico do horror ‘slasher’*, aliada a necessidade de deixar tudo esmiuçado para o público, mesmo comprometendo a veracidade da narrativa ou a continuidade.

A própria estética minimalista ou mesmo o diálogo perspicaz travado entre Guy Pearce e Michael Fassbender em determinado momento prometiam algo mais refinado, todavia, não é o que ocorre ao longo da exibição.

*Subgênero do cinema de terror marcado por violência, com derramamento de muito sangue em imagens surreais, mas com um aspecto artificial. Nestas produções, por vezes, tais atos violentos estavam atrelados a nudez gratuita ou a insinuação do ato sexual. A franquia Sexta-feira 13 é um exemplo famoso.

É preciso explorar novos caminhos

Pela direção de Perdido em Marte de 2015, Ridley Scott foi indicado ao Oscar e ao Bafta, sem sombras de dúvidas, ele segue firme como um dos mestres do cinema de ficção científica, mas do ponto de vista artístico, talvez, fosse prudente não explorar mais as obras do passado e investir em outro universo.

‘Alien: Covenant’ faz considerações relevantes, provoca alguns sustos e rende muita ação, mas está longe daquilo esperado de um cineasta de peso e de uma obra com o intuito de explicar a origem de uma das criaturas mais aterrorizantes da história do cinema.

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