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Crítica aos EUA com direito a violência, gângsteres e cinismo

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Dirigido pelo neozelandês Andrew Dominik, O Homem da Máfia investe em cenas violentas, regadas a muito sangue e associa a situação vivida pelos personagens como um resultado da política e cultura norte-americana. Apesar do conteúdo ácido, é a montagem ousada que confere status ao filme, que se diferencia das produções do gênero. Cortes secos, som bem marcado e trilha sonora irreverente provocam diferentes sensações.

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Distribuição/Imagem Filmes

Na trama, Brad Pitt interpreta o assassino profissional Jackie, ele é contratado por uma corporação criminosa que mais parece um órgão governamental. Ele tem a função de restabelecer a ordem e punir todos os envolvidos no assalto cometido a uma das casas de carteado gerenciada por Markie (Ray Liotta), enredo ideal para um verdadeiro rio de sangue.


Os minutos iniciais do filme intercalam imagens de um ambiente decadente com o discurso de Barack Obama durante a campanha presidencial de 2009. São cortes secos, que dão o tom da narrativa que apesar de investir no slow motion em um momento específico, mantém o ritmo dinâmico. As experiências visuais propostas pelo diretor são bem variadas e pouco usuais, como a cena em que o viciado Frankie (Scoot McNairy) está prestes a desmaiar de sono.

Nesta mesma linha, o som foge do tecnicamente correto e como uma forma de experimentação, ultrapassa os decibéis normalmente utilizados. A trilha musical investe em temas românticos das antigas, dentre eles, Love Letters interpretado por Ketty Lestter e The Paper Moon na voz de Cliff Edwards, o que serve de contraste aos crimes violentos.

Por vezes, o diretor parece beber na fonte de Tarantino e tenta mesclar violência e irreverência, no entanto, o universo proposto por ele é diferente, não existem personagens femininas destemidas ou figuras admiráveis, mesmo que politicamente incorretas. Pelo contrário, são representações de típicos homens caucasianos com uma mentalidade machista e muitos deles com um aspecto repulsivo. Tudo isso é ressaltado pelos diálogos e, talvez, por isso o mercenário vivido por Brad Pitt se destaque como alguém agradável.
 
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Jackie ao lado do representante da máfia Richard Jenkins – Distribuição/Imagem Filmes
Um aspecto que merece destaque na obra do diretor é o cuidado com o requinte de detalhes, no primeiro assassinato, há uma desaceleração das imagens, onde cada gotícula de sangue e bala disparada pode ser vista. A tecnologia não é uma novidade e foi bastante utilizada na franquia Matrix, mas a ideia de ilustrar o ponto de vista do matador sobre a morte de suas vítimas é um aspecto bastante interessante. Mas isto é logo contraposto por sequências realistas de assassinatos brutais, rápidos, secos e sem direito a música.

Política, degradação e América sem expectativas de vida


Durante toda a narrativa, são exibidos trechos de discursos de Obama, o que propõe um contraponto com a história. Em uma das cenas, enquanto o atual presidente fala sobre a qualidade da mão-de-obra norte-americana, o matador de aluguel repreende um dos capangas que tenta pegar a gorjeta deixada na lanchonete. Uma forte referência à crise vivida pelos americanos em um período com índices preocupantes de desemprego. 


Apesar do discurso, às vezes, autoritário, o longa levanta questões relevantes sobre a imagem de nação intocável e exemplo de democracia dos Estados Unidos. Levando em conta as falas do personagem de Pitt, será que esta é realmente a terra das oportunidades? Em meio a tantos tiros, comentários misóginos e algumas piadinhas duvidosas, O Homem da Máfia lança um olhar cínico sobre a terra do Tio Sam.


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