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Rainha & País: o olhar poético e crítico de John Boorman

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Depois de quase três décadas, Esperança e Glória ganha a esperada sequência intitulada Rainha & País. John Boorman roteiriza e dirige a trama, mantendo assim a sua assinatura com referências diretas ao cinema, além das reflexões feitas às instituições de confinamento e à guerra, entretanto, o diretor não repete o mesmo encanto do título de 1987.

Bill com a sua irmã mais velha, interpretada por Vanessa Kirby – Imagem/Paris Filmes

Como gancho, uma das cenas do original ambientado na Londres de 1943 é exibida com foco em Bill Rohan, até então uma criança. Nove anos depois, o jovem agora é convocado para servir o exército na luta contra a Coréia, desta forma, além de observador, ele passa a ser parte deste processo que caminha em paralelo às demais descobertas da vida.

Mas não espere por um filme com um objetivo específico, John Boorman floreia nesta viagem rumo as experiências do protagonista. Adota um tom lúdico ao tratar da descoberta sexual e romântico ao retratar o primeiro amor inalcançável, mas segue corrosivo ao lidar com temas como as relações no âmbito familiar e no quartel, expondo assim a fragilidade destas instituições.

Caleb Landry Jones, David Thewlis e Callum Turner – Imagem/Paris Filmes

Com personagens intensos, a narrativa ressalta os efeitos traumáticos da guerra. O Percy de Caleb Landry, por exemplo, é inconstante e segue como tinta forte mas ainda assim condizente com a proposta. Porém quem merece destaque é David Thewlis por seu papel como o sargento-mor Bradley em uma luta incessante pela disciplina como forma de aplacar um caos interno.

Mas se o veterano segue com bom desempenho, Callum Turner na pele de Bill Rohan não esbanja sequer o carisma do precursor ‘mirim’ de Esperança e Glória, talvez, essa fosse a ideia do diretor, alguém tão crú como o personagem. Mesmo com maiores recursos tecnológicos e forma de narrar contemporânea, o longa da década de 1980 ainda detém atmosfera mais cativante e crível.

De qualquer maneira, muitos são os aspectos positivos, tais como a direção de arte notável, importante na constituição deste universo e bastante visível na composição de figuras como a da bela aristocrata, distante e infeliz, interpretada por Tamsin Egerton. O enlace com a citação de obras cinematográficas como Ricos e Estranhos e Sunset Blvd também são pertinentes à história.

Tansim Egerton encarna o primeiro amor de Bill – Imagem/Paris Filmes

Rainha & País levanta questões interessantes sobre a sociedade pós-segunda guerra, assim como a ineficiência das estruturas institucionais para lidar com esse novo homem. Entretanto, a falta de um objetivo específico pode dificultar maior engajamento afetivo. No mais, a produção tem um viés autoral com aparente liberdade artística e apesar do lapso temporal, dialoga com a obra anterior.

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